
zé ninguém
[john doe] 2025
Neon-led, acrílico, fiação elétrica e tinta acrílica sobre madeira
[Neon-led, acrylic, electrical wiring and acrylic paint on wood]
Dimensões variáveis
[Variable dimensions]
* Este projeto foi comissionado pela 14ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil
[* This project was commissioned by the 14th Mercosur Biennial, Porto Alegre, Brazil]
Instalado no POP Center, um centro comercial no coração de Porto Alegre, Brasil, "Zé Ninguém" estabelece um diálogo com o entorno ao apropriar-se da estética visual do comércio local: letreiros digitais, luzes pulsantes, LEDs vibrantes e uma profusão de dispositivos eletrônicos moldam a atmosfera da ocupação.
Em um espaço que evoca um pátio, cinco cabines coloridas abrigam neons realizados a partir dos petróglifos revelados pela seca extrema do Rio Negro, no Amazonas, em 2023. O evento marcou o nível mais baixo do rio em 121 anos, expondo inscrições rupestres com mais de dois mil anos de existência.
Em frente às cabines, uma parede exibe um neon criado a partir de um pictograma concebido pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos como um alerta universal de perigo radioativo — uma tentativa de comunicação com civilizações futuras, quando as linguagens atuais talvez já tenham se dissipado. Esse pictograma foi baseado na figura presente na pintura O Grito, de Edvard Munch — este que, por sua vez, deu origem também ao "rosto gritando de medo" do teclado de emojis. Ao seu redor, ecoa a frase escrita por Munch em seu diário em 1892, um ano antes de pintar a obra: “Senti como se um grito vasto e interminável passasse pela natureza.”
"Zé Ninguém" investiga a persistência e a transformação das imagens através do tempo. Os petróglifos do Rio Negro, cujos significados permanecem desconhecidos, retornam à superfície pelas matérias da imprensa mundial como signos da crise ambiental. Já "O Grito" — convertido em alerta radioativo — projeta sua angústia para um futuro imaginado, onde poderá ser reinterpretado como um vestígio tão enigmático quanto as inscrições rupestres da Amazônia.
Transmutados em neons coloridos, esses “emojis” — ao mesmo tempo ancestrais e futuros, deformados e ambíguos — parecem ensaiar uma iconografia do colapso. Há, no trabalho, uma convergência anacrônica de sinais: imagens que atravessam séculos, deslocadas de seus contextos originais, sobrepondo-se ao presente como fantasmas melancólicos de um tempo fragmentado.
"John Doe", installed at the POP Center, a shopping mall in the heart of Porto Alegre, Brazil, establishes a dialogue with its surroundings by appropriating the visual aesthetics of local commerce: digital signage, pulsating lights, vibrant LEDs, and a profusion of electronic devices shape the atmosphere of the occupation.
In a space that evokes a courtyard, five colorful booths house neon artworks created from petroglyphs revealed by the extreme drought of the Rio Negro, in the Amazon, in 2023. The event marked the river’s lowest level in 121 years, exposing rock carvings over two thousand years old.
In front of the booths, a wall displays a neon piece derived from a pictogram designed by the United States Department of Energy as a universal warning sign for radioactive danger — an attempt to communicate with future civilizations, when present-day languages may have already vanished. This pictogram was based on the figure in the painting "The Scream", by Edvard Munch — which, in turn, also inspired the "face screaming in fear" emoji. Surrounding it echoes a sentence written by Munch in his diary in 1892, a year before he painted the artwork: “I felt as though a vast, endless scream passed through nature.”
"John Doe" investigates the persistence and transformation of images over time. The Rio Negro petroglyphs, whose meanings remain unknown, resurface in international news coverage as signs of the environmental crisis. Meanwhile, "The Scream" — turned into a radioactive warning — projects its anguish into an imagined future, where it may be reinterpreted as a vestige as enigmatic as the ancient carvings of the Amazon.
Transformed into colorful neons, these “emojis” — at once ancestral and futuristic, distorted and ambiguous — seem to rehearse an iconography of collapse. Within the work, there is an anachronistic convergence of signs: images that traverse centuries, displaced from their original contexts, overlapping with the present like melancholic ghosts from a fragmented time.























