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A passagem do tempo não só pode estar evidenciada no processo, mas ser a matéria poética capaz de gerar propostas artísticas diversas. Tempo que transcorre lentamente ou mesmo se fragmenta diante dos nossos olhos, que se apresenta como dimensão almejada frente à aceleração dos processos e relações contemporâneas. Temporalidade marcada na passagem, na superfície, no suporte. Rastro demorado. Pausa. Nos trabalhos de Bianca Bernardo o tempo se apresenta ora na fluidez afetuosa da representação das relações e sentimentos pessoais, ora na ação, no gesto que pede silêncio e parece inverter o fluxo do decorrer das coisas. A artista pretende operar uma tentativa de esvaziamento, um desejo de libertar-se dos excessos, um convite a repensarmos nossa relação íntima com o mundo. Luz Contínua de Lin Lima enfatiza o rastro, a passagem do tempo através do uso do processo fotográfico para registrar um movimento, um deslocamento poético. Os fragmentos apresentados em uníssono através de imagens justapostas estabelecem a relação dialética entre o tempo do homem e o tempo da natureza, entre a sutileza do olhar e a aspiração de representar uma dimensão alargada. Nas fotografias de Ismael Monticelli prevalecem um sentimento de desolamento, estimulado pela dissimulação da presença humana, ou mesmo seu total encobrimento, diante da suposta grandiosidade da paisagem. A perda de referenciais precisos enfatiza ainda mais a dimensão dúbia de suas imagens: o tempo da espera, da imersão íntima ampliada, encobre todas as coisas, ressaltando a prevalência de uma atmosfera distanciada e quase irreal.

 

 

 

Texto publicado originalmente no catálogo da exposição 41º Novíssimos, realizada no Centro Cultural Ibeu, Rio de Janeiro/RJ, 2011. 

tempo e registro

Por Ivair Reinaldim

 

2011

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