still keep smiling [ainda continue sorrindo]
2020
Fotografia e impressão 3D em PLA
[Photography and 3D printing in PLA]
Dimensões variadas
[Varied dimensions]
Durante a década de 1970, a artista Vera Chaves Barcellos [Porto Alegre, 1938] retratou amigos e a si própria com uma pequena placa de identificação, similar à usada para registrar a data em fotografias de passaporte ou em registros penitenciários, com a inscrição “Keep Smiling” [Continue Sorrindo]. Ao olhar para a série de retratos, é difícil não interpretá-los como uma alusão irônica ao ambiente político do Brasil naquela época, marcado por vigilância constante e pela repressão sangrenta da ditadura militar contra a oposição. Vera, no entanto, esclarece que o caráter político não estava em seu horizonte criativo: “Minha intenção foi realizar um trabalho divertido”, declarou a artista.
Ao propor uma releitura desse trabalho durante o confinamento imposto pela pandemia de Covid-19, o artista desenvolveu máscaras modeladoras de sorrisos para selfies, utilizando como estrutura base alargadores de boca usados em consultórios odontológicos. Nas fotos que compõem o trabalho, o artista aparece vestindo cada uma das máscaras, que carregam frases dialogando diretamente com o contexto trágico daquele momento. Os autorretratos, com suas expressões e sorrisos exageradamente alargados, mais monstruosos do que felizes, ironizam a ideia de que é necessário manter a normalidade e a felicidade em um período de crise – como propagado pela imprensa à época, que apresentava reportagens com pensadores afirmando aspectos positivos do confinamento e da pandemia.
Além disso, o trabalho aponta um aspecto importante a respeito do humor e da ironia, que pode se apresentar como uma ferramenta tanto de combate e denúncia quanto de sobrevivência e resistência em momentos adversos.
During the 1970s, artist Vera Chaves Barcellos [Porto Alegre, 1938] portrayed friends and herself with a small identification plate, similar to those used to record the date in passport photographs or prison records, with the inscription “Keep Smiling.” When looking at the series of portraits, it is hard not to interpret them as an ironic allusion to Brazil's political climate at the time, marked by constant surveillance and the bloody repression of the military dictatorship against opposition. Vera, however, clarifies that the political character was not in her creative horizon: “My intention was to create a fun piece,” the artist stated.
During the confinement imposed by the Covid-19 pandemic, the artist proposed a reinterpretation of this work, developing smile-molding masks for selfies, using dental cheek retractors as the base structure. In the photos that make up the work, the artist appears wearing each of the masks, which bear phrases directly addressing the tragic context of that moment. The self-portraits, with their exaggeratedly widened smiles, more monstrous than happy, mock the idea that it is necessary to maintain normalcy and happiness during a crisis – as propagated by the media at the time, which featured thinkers stating positive aspects of the confinement and the pandemic.
Furthermore, the work highlights an important aspect of humor and irony, which can present itself as a tool for both combat and denunciation, as well as for survival and resistance in adverse times.