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não te esqueças nunca que eu venho dos trópicos

[don't ever forget that I come from the tropics] 2019

Madeira, papel, maçã, banana, monitor transmitindo o episódio
“A história de Guilherme Tell”, da série de TV Chapolin Colorado
[Wood, paper, apple, banana, monitor broadcasting the episode
“The story of Wilhelm Tell”, from the Chapolin Colorado TV series]
Dimensão variável [Variable dimension]


* Projeto realizado durante uma residência artística em La Becque Résidences d'artistes, em La Tour-de-Peilz, Suíça, viabilizada pela Bolsa para Artistas Sul Americanos 2019, Projeto Coincidencia, Fundação Pro Helvetia
[* Work done during an artistic residency at La Becque Résidences d'artistes, La Tour-de-Peilz, Switzerland, 2019, supported by the Residency Grant for South American Artists 2019, Coincidência Project, Pro Helvetia Foundation]

O Brasil foi uma colônia por aproximadamente 322 anos, de 1500 a 1822. Durante esse período, grande parte da narrativa sobre o país foi moldada por viajantes estrangeiros. Um desses viajantes foi Carl Seidler, um aventureiro suíço-alemão que chegou ao Brasil em 1826, aos dezesseis anos. Após passar uma década nos trópicos, Seidler retornou à Europa e escreveu o livro “Dez Anos no Brasil”, onde relatou suas experiências, incluindo assistir a uma apresentação de “Guilherme Tell”, de Friedrich von Schiller, no Teatro Imperial, no Rio de Janeiro. Suas críticas severas descreveram a adaptação brasileira como "uma comédia feita por macacos", revelando o olhar colonialista com que o Brasil frequentemente era retratado.

 

Esta instalação explora como o Brasil conheceu e se apropriou da lenda suíça de Guilherme Tell em diferentes contextos, entrelaçando narrativas coloniais, cultura popular e fascínio político.

 

Para muitos brasileiros, a lenda de Guilherme Tell foi apresentada não pelos imigrantes suíços ou pela peça de Schiller, mas por meio de Chapolin Colorado, uma série de televisão mexicana exibida na TV brasileira a partir de 1984. A série, uma sátira aos super-heróis norte-americanos, trazia críticas sociais afiadas à América Latina e incluía um episódio que reinterpretava a história de Guilherme Tell.

 

Conexões anteriores remetem aos imigrantes suíços que fundaram Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, em 1819. Na cidade, uma fábrica de queijos abriga um monumento inspirado no “Tell Monument” (1895), localizado em Altdorf, Suíça. A história de Guilherme Tell também fascinou figuras brasileiras importantes, como Joaquim Francisco de Assis Brasil, que, em 1902, posou para uma fotografia apontando um rifle para uma maçã colocada na cabeça de Santos Dumont, pioneiro da aviação. Outro admirador foi Gustavo Capanema, o Ministro da Educação que mais tempo ocupou o cargo na história do Brasil (1934–1945). Em seu arquivo pessoal, há uma tradução manuscrita de 30 páginas da peça “Guilherme Tell”, de Schiller, evidenciando a ressonância duradoura dessa narrativa.

 

Esta instalação, concebida durante uma residência em La Becque, na Suíça, reflete sobre essas interseções. Uma estante divide o espaço em duas partes. Na parte frontal, encontra-se uma série de varas de madeira que carregam palavras de papel, nas suas versões português e alemão, oriundas do documento de autoria de Gustavo Capanema; em uma das varas encontra-se um prato com uma maçã vermelha. Na parte posterior da instalação, como uma espécie de contraponto, bananas foram posicionadas sobre suportes de madeira, acompanhadas de um monitor que transmite a versão dublada do episódio “A história de Guilherme Tell”, da série de TV mexicana Chapolin Colorado. O cheiro de banana madura invade completamente o espaço.

Brazil was a colony for approximately 322 years, from 1500 to 1822. During this period, much of the country’s narrative was shaped by foreign travelers. One of these travelers was Carl Seidler, a Swiss-German adventurer who arrived in Brazil in 1826 at the age of sixteen. After spending a decade in the tropics, Seidler returned to Europe and wrote the book “Ten Years in Brazil”, where he recounted his experiences, including attending a performance of “William Tell” by Friedrich von Schiller at the Imperial Theatre in Rio de Janeiro. His harsh critiques described the Brazilian adaptation as “a comedy performed by monkeys,” revealing the colonialist lens through which Brazil was often portrayed.

 

This installation explores how Brazil encountered and appropriated the Swiss legend of William Tell across different contexts, intertwining colonial narratives, popular culture, and political fascination.

 

For many Brazilians, the legend of William Tell was introduced not by Swiss immigrants or Schiller’s play but through Chapolin Colorado, a Mexican television series broadcast on Brazilian TV from 1984 onward. The series, a satire of American superheroes, offered sharp social critiques of Latin America and included an episode reinterpreting the story of William Tell.

 

Earlier connections trace back to Swiss immigrants who founded Nova Friburgo in Rio de Janeiro in 1819. In this city, a cheese factory houses a monument inspired by the “Tell Monument” (1895) in Altdorf, Switzerland. The story of William Tell also captivated prominent Brazilian figures, such as Joaquim Francisco de Assis Brasil, who, in 1902, posed for a photograph aiming a rifle at an apple placed on the head of Santos Dumont, the aviation pioneer. Another admirer was Gustavo Capanema, Brazil’s longest-serving Minister of Education (1934–1945). In his personal archive, a 30-page handwritten translation of Schiller’s “William Tell” highlights the enduring resonance of this narrative.

 

This installation, conceived during a residency at La Becque in Switzerland, reflects on these intersections. A bookshelf divides the space into two parts. In the front section, a series of wooden rods display paper fragments in Portuguese and German, taken from Gustavo Capanema’s manuscript; one of the rods holds a plate with a red apple. In the rear section, as a kind of counterpoint, bananas are placed on wooden supports, accompanied by a monitor playing the dubbed episode “The Story of William Tell” from the Mexican TV series Chapolin Colorado. The scent of ripe bananas fills the space entirely.

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