

Nossa mente está inundada de imagens
de lugares onde jamais estivemos e que ainda assim conhecemos,
pessoas que jamais encontramos
e que ainda assim conhecemos e de acordo com as quais,
em grande medida, levamos nossa vida.
A sensação que isso transmite, de que o mundo é pequeno,
encerrado em si mesmo, sem abertura para o exterior, é quase incestuosa, e embora eu soubesse que essa sensação era profundamente falsa,
já que na verdade não sabemos nada sobre coisa alguma,
eu não conseguia escapar a ela.
Aí estava a origem da nostalgia que sempre senti, que em certos dias era tamanha que eu mal podia controlar.
Se eu escrevia, era em parte para ameniza-la, queria abrir o mundo para mim escrevendo, mas ao mesmo tempo era isso que me fazia fracassar. A sensação de que o futuro não existe, que ele não passa de mais do mesmo, significa que toda utopia é desprovida de sentido.
A literatura sempre esteve relacionada à utopia, e, quando a
utopia perde o sentido, a literatura também perde.
O que eu estava tentando fazer e talvez o que todos os escritores tentam fazer, se é que eu sei alguma coisa neste mundo, era combater ficção com ficção.